mingus: e se for para ser leve?
que seja inteira
entrando devagar
sem cansar
só sambar
e ficar dentro por toda hora.
se for?
júlia: eu sou neguinha.
mingus: forçou, vingou, aprendeu, bateu,
e soou em mim.
suei,
encolhi,
subi em mim.
júlia: este samba de mãos, sei não,
que fica cada vez mais pesado e incansável.
uma saliva vem molhar meu desenho
me faz sentir um calor intensamente excitante
mingus: em processo me transtorno
me formo e transformo em mordidas.
chupo cada dor, e ranco de ti o supra
o sumo, o gosto,
e como.
júlia: uma viagem louca, minhas mãos percorrem o contorno do rosto
e encontra uma fuga entre cabelos,
que nascem de uma nuca fria, mas aconchegante.
são peles trêmulas a se encontrarem pouco a pouco.
mingus: me come.
júlia: sensação de cruzar as pernas quando se sente o calor presente ficar por um tempo,
mesmo quando já está descruzada,
é como a contração se transformasse em umidez.
mingus: embrenho-me em tantas pernas.
júlia: este samba me provoca sons quase surdos, mas vibrantes.
sou de quem me possui.
Você me provoca respirações nervosas.
Braços me agarram como temessem que eu partisse,
dedos com unhas que deixam marcas impiedosas
sob uma pele suada,
nua e
trançada.
mingus: na mordida crua
mato como se marca.
aperto sua cor
tapeio qualquer cheiro
sinto dentro de ti essa onda
e pulo
passo a vez
e dessa vez que venha nua.
júlia: pernas que aprisionam
e não são mais dedos que tocam,
mas lábios que se maquiam de beijos.
cada membro espetacular.
beijos e pensamentos a descansar.
permita que suspiros invandam os ouvidos
e faça de minha cabeça uma caixa acústica.
mingus: cansamos!
júlia: derramamos esse líquido
com cheiro que provoca meu instinto.
eu lambo e te engulo.
mingus: essa canção por mim não tem fim,
corpo delicado,
e agora já foi
sinta-se em mim, sente?
...
matei um samba?